Há mais de dez anos, um aficionado por livros visitou a grande metrópole mundial. E sendo aficionado por livros, lá esperava encontrar enormes magazines, com oferta quase ilimitada de todo tipo de livro, e mais cafeterias, espaços musicais, decoração e iluminação apropriadas, tudo tal como havia nas grandes redes no Brasil. Mas, surpresa!
Percorreu Manhattan de cabo a rabo, buscou os endereços pelo Maps, e nada. Parece que tudo que restava do tempo das grandes livrarias eram pequenos e acanhados sebos, raros e quase escondidos pelas ruas da cidade. Será que os nativos, ou mesmo os turistas que lá aportam todo ano aos milhões, havia perdido também o gosto pela leitura?
Não, nada disso! A verdade é que por lá, bem antes que por aqui, a grande onda virtual já estava totalmente consumada. Por lá, já há mais de uma década atrás, as pessoas recebiam seus livros físicos sem sair de casa. Ou os recebiam eletronicamente, com os livros simplesmente “baixando”, como se fossem fantasmas, num aparato eletrônico ao gosto do cliente. Mas hoje, parece que chegamos num ponto de ruptura simultâneo, que está ocorrendo no mundo todo. De repente, não mais que de repente, quase metade da população mundial foi confinada dentro de suas casas.
Tendências incipientes, como o trabalho remoto, irromperam com uma força inesperada. Mas junto veio também o ensino remoto, a alimentação remota, e até os relacionamentos amorosos remotos. O próximo passo, a partir de agora, é tentar descobrir o que se seguirá. Se já é certo que as atividades remotas vieram para ficar, pode-se esperar também que as atividades pessoais nunca desaparecerão.
Graças a Deus, ainda não somos robôs, e por esse motivo as pessoas sempre e ainda sentirão falta de sair de casa para “ir às compras”, para ter uma experiência real. Afinal de contas, comprar não é apenas adquirir. É também sair de casa, olhar, tocar sentir, passear, se esquecer de si, dar um tempo nos problemas. E mais ainda: ver, ou ser visto, ou ser esquecido.
Vai se sair melhor, assim que essa crise passar, quem melhor compreender a medida certa entre a presença e a distância que o negócio requer. As distâncias vão aumentar, é certo, talvez por necessidades econômicas, ou mesmo sanitárias. Mas as urgências de encontros presenciais também vão aumentar, pois essas são necessidades extremamente humanas. A ver.